Este ensaio é produto de uma reflexão sobre a autonomia das mulheres que vivem a sua velhice e as suas contribuições para o campo da saúde. Das histórias construídas numa investigação doutoral, sobre os seus próprios cuidados de saúde, emergem reflexões pessoais que contribuem para novas construções teóricas e colocam em tensão as propostas hegemônicas referidas a este tópico, gerando assim um conhecimento situado e descolonizador que abre as portas para olhar as velhices de uma forma diferente. A partir deste processo, são resgatadas duas ideias-forças: em primeiro lugar, compreender a distância semântica entre autonomia e independência, de onde a autonomia é construída como uma decisão sobre si mesma e não como a capacidade de realizar as ações que mobilizam essas decisões; portanto, ser autônoma e ser independente são caminhos paralelos e complementares que contribuem para um envelhecimento saudável. Em segundo lugar, que habitar a autonomia é uma experiência historicamente construída e muda à medida que elas envelhecem e abandonam a obrigação de cuidar dos outros, colocando-se no centro das suas vidas, sem perder de vista a ameaça que o velhismo pode gerar nesta experiência. O proposto é re-semantizar estes conceitos na saúde e incorporar na práxis sanitária uma perspectiva reflexiva crítica que reconheça o curso da vida e a multiplicidade de sistemas discriminatórios que tornam precárias as histórias de mulheres que vivem as suas velhices, a fim de contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa.